DIA DO JORNALISTA: Do telégrafo às fake news: profissionais lembram fatos históricos e falam sobre futuro da profissão

Propagação de desinformação assusta jornalistas mais antigos; Inteligência Artificial também é mencionada como nova ferramenta
Foto: Ascom/ALERR

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Da: Ascom/ALERR

Nesta segunda-feira, 7 de abril, é celebrado o Dia do Jornalista, data que traz à reflexão social a essencialidade da profissão para manter a liberdade de expressão, informação, a democracia e combater as fake news. Afinal, com profissionais atuando em uma imprensa livre, a população é informada sobre tudo o que é de interesse público. A Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) tem uma Superintendência de Comunicação formada por diversos jornalistas graduados e com especialização, para levar até a sociedade roraimense os debates da Casa, fortalecer a participação popular e a implementação de políticas públicas.

 

Nos últimos anos, o parlamento investiu na Comunicação, com o intuito de trazer os cidadãos para mais perto da Casa, por meio da TV Assembleia, canal 57.3, Rádio Assembleia, 98,3FM, as redes sociais (@assembleiarr), com equipamentos de alta qualidade – tanto em imagem quanto som – e uma equipe preparada para manter o bom funcionamento de todo o fluxo de informação. O objetivo principal, como afirma a superintendente de Comunicação, Sonia Lucia Nunes, é manter a população bem informada e garantir o livre acesso aos meios oficiais de informação, o que é primordial na era da proliferação da desinformação.

O jornalista também está lidando com vidas. Uma desinformação, uma informação falsa, pode destruir a vida de muitas pessoas. E o jornalista com formação e registro profissional é a garantia de que está capacitado e comprometido com a verdade. Então a Assembleia Legislativa de Roraima reafirma esse compromisso com a verdade através dos canais oficiais. Ainda que exista particularidade em todos os setores da Comunicação, acreditamos que, por meio do estudo, passar por uma cadeira da faculdade, estudar disciplinas sobre ética, com certeza sabemos que esse jornalista, no mercado de trabalho, vai ter compromisso com a população, porque esse é nosso objetivo”, declara.

Opinião com a qual concorda e compartilha Marilena Freitas. Jornalista há quase 30 anos, recorda com orgulho do furo de reportagem (termo usado para se referir a um conteúdo dado em primeira mão) sobre a Operação Praga do Egito, que desmantelou uma grande organização criminosa de desvio de recursos públicos. Marilena, que teve o nome escolhido em homenagem a uma locutora de rádio, se diz predestinada a ser jornalista, profissão que, para ela, é exemplo de dar voz aos grupos mais vulneráveis.

Você pode ser o grito dos excluídos e fazer a diferença no mundo. Ser jornalista é dar voz aos invisibilizados no sistema, é ser um grito das mulheres, dos que vivem em vulnerabilidade social, é um sacerdócio, é ser um braço da cidadania. O que mais me encanta na profissão é estar na hora, no momento do fato, registrando tudo, a emoção, a adrenalina…”, comenta.

Até os mais jovens também concordam com a vitalidade do jornalismo para o exercício e a garantia de direitos civis. Bruna Gomes, formada há um ano, mas com atuação no mercado desde 2020, começou a sonhar, a partir dos 11 anos, que o jornalismo seria sua paixão. Ela avalia que a profissão é desvalorizada e os ataques sofridos nos últimos anos a tornam ainda mais desafiadora.

Saí do ensino médio e ingressei na faculdade em 2018, onde fiquei até 2023. Nós, que trabalhamos no Poder Legislativo, conhecemos muitas histórias, como ter ido à região sul de Roraima para mostrar a BR-174 bastante deteriorada. Apresentar o jornal Assembleia Informa também foi um ponto alto. Às vezes, você pensa em desistir da profissão, mas quando observa os resultados conseguidos por meio do nosso trabalho, é gratificante. É importante que a população nos veja como autoridade, com o poder de fazer alguma coisa para solucionar as demandas sociais. Sinto-me uma super-heroína”, resume.

Seis décadas de profissão

Plínio Vicente está no auge dos 82 anos, 65 deles dedicados a ser jornalista. Com uma memória afiada, lembra que a profissão o levou à prisão duas vezes por causa de matérias que havia escrito. Ele conta que descobriu o ofício aos 18, em setembro de 1960, quando uma tempestade com raios matou um rebanho leiteiro numa fazenda próxima à vila onde morava, em Guatapará, interior de São Paulo.

Escrevi umas 30 linhas e transmiti por telefone para o jornal O Diário, de Ribeirão Preto. A matéria foi manchete no dia seguinte, meu texto elogiado e acabei sendo convidado para estagiar na redação. Mas não deu certo e acabei migrando para o rádio, passando pela Cultura de Monte Alto, Educadora de Campinas e Difusora de Jundiaí, de onde, em 1971, fui convidado para trabalhar no Jornal da Cidade como repórter esportivo. Lá, cheguei a editor-chefe, transformando o diário num dos mais importantes do interior paulista”, detalha.

Ao longo das mais de seis décadas, foi premiado internacionalmente, viu o jornal onde trabalhava sofrer um atentado e precisou ser exilado em Boa Vista após ameaças de um grupo de extrema direita, na época da ditadura militar. O jornalista fala que começou na área utilizando o componedor, um instrumento de tipografia que permitia aos tipógrafos organizarem os caracteres móveis para compor linhas de texto, e segue ativo com as novas tecnologias.

O telefone era analógico, não havia discagem direta. Para marcar uma entrevista, era preciso ir ao local do entrevistado, agendar com a secretária e voltar na data e horário marcados. Aos poucos, tudo foi mudando, vieram facilidades como o DDD [Discagem Direta a Distância], o DDI [Discagem Direta Internacional], os aparelhos de telex e de telefoto, até que chegaram o fax, computador, internet e o celular. Começaram a aparecer em meados dos anos 1990, quando eu passei a contar com fax e aparelho de telefoto. A internet mesmo nunca cheguei a usar no meu trabalho de correspondente, me aposentei antes. Mas hoje vivo confortavelmente utilizando essas facilidades no meu trabalho atual”, pondera.

Futuro da profissão

Não desistir da profissão e encorajar novos talentos para atuarem na área são caminhos importantes para manter viva a defesa da democracia. O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima (Sinjoper), Paulo Thadeu, é enfático ao citar Líbero Badaró e Vladimir Herzog como símbolos de resistência da profissão, principalmente em momentos difíceis e de ataques ao Estado Democrático de Direito.

É preciso que a população e o jornalismo estejam lado a lado em defesa do bem comum, para uma sociedade mais justa e igualitária, em defesa de uma sociedade participativa, com os jornalistas registrando as memórias dos fatos e dando publicidade. A profissão não pode estar dissociada da sociedade, por que quem são os guardiões da democracia? Os jornalistas. Eles estão ali, dando publicidade aos fatos, repassando para a sociedade a notícia, com o intuito de esclarecer a população, seja na tristeza ou na alegria, eles estão lá”, reforça.

Mas é possível pensar no futuro da profissão? O que ocorre atualmente que levaria a uma profunda reflexão do ser jornalista daqui a alguns anos? Plínio Vicente acredita que a propagação das fake news é preocupante e mostra um regresso no tempo do jornalismo marrom dos anos 1950 e 1960, quando se publicava informação sem qualquer checagem, numa época em que não havia qualquer legislação criminalizando esse tipo de conduta.

Aliás, ainda não se chegou a uma legislação, pois a regulação dessas redes segue numa eterna discussão. Cabe lembrar que desde o arauto, o primeiro jornalista da história, que levava notícias de um lugar a outro na Idade Média, aos tempos presentes, com a proliferação de blogueiros e influencers, a cada momento surge sempre algo que pode mudar totalmente o comportamento humano. Então me pergunto: qual será o futuro do jornalismo a partir da massificação das técnicas disponibilizadas pela Inteligência Artificial e seu uso ilimitado no dia a dia do ser humano, seja para o bem ou para o mal, com boas ou más intenções? Não estarei mais aqui para testemunhar, mas imagino que um dia a AI fará com que o jornalista passe a ter uma importância muito menor no seio das sociedades”, projeta.

Já para Sonia Lucia Nunes, ainda que a Inteligência Artificial avance, ela não terá a sensibilidade de um ser humano para narrar histórias.

Ela precisa de pessoas, de homens para abastecer, e nunca será capaz de competir com seres humanos, que temos sensibilidade para apurar uma pauta, mostrar um caso de violência contra a mulher ou abuso e exploração de crianças e adolescentes, por exemplo. Isso jamais a inteligência artificial será capaz de fazer. Mas claro que precisamos ser objetivos e imparciais, e nossa profissão nos proporciona isso, de ter o compromisso com o cidadão e gerar a cidadania. A Inteligência Artificial veio para complementar o trabalho em todos os setores, mas temos que saber usar com sabedoria”, conclui.