Há três anos, lei estadual busca conscientizar população de Roraima sobre alergia alimentar

Sintomas podem incluir febre, vômitos, diarreia, reflexo, dor abdominal, erupções e coceiras na pele, falta de ar, entre outros.
Foto: Ascom/ALERR

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Da: Ascom/ALERR

A terceira semana de maio é dedicada à Semana Estadual de Conscientização sobre Alergia Alimentar, instituída pela Lei nº 1549/2021, aprovada pela Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR).

 

A norma tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da identificação, prevenção e tratamento adequados das alergias alimentares.

“A prevenção é fundamental. Precisamos discutir e disseminar esse conhecimento à população. É necessário também que hospitais e escolas ofereçam acolhimento e alimentação diferenciada. É um assunto que precisamos abordar com seriedade, pois há um aumento de casos de alergias. A informação salva vidas”, explica a autora da lei, deputada Angela Águida Portella (Progressistas).

 

A lei prevê diversas ações durante o período, como seminários, palestras e eventos educativos. De acordo com a parlamentar, a campanha foi concebida ao tomar conhecimento da gravidade de casos de alergias alimentares em bebês.

 

“Muitas mães nos relataram que seus bebês começaram a ter reações alérgicas, não se desenvolvendo adequadamente. Ao buscar o motivo, descobriram que era alergia alimentar, que pode desencadear reações leves, mas também pode levar a reações severas, inclusive à morte. Precisamos, então, incluir esse assunto nas agendas de políticas públicas, e a lei veio para corroborar isso”, complementa Portella.

 

O Poder Legislativo tem um histórico de leis voltadas para garantir uma alimentação de qualidade. Um exemplo disso é a Lei nº 364/2003, de autoria dos ex-deputados Bernardino, Erci de Moraes, Edio Lopes, Heldar Grossi, Raul Prudente e Rosa Rodrigues. A norma proíbe a utilização de alimentos geneticamente modificados na merenda escolar de escolas públicas do Estado e estabelece outras providências.

 

Outra iniciativa que visa ao acesso dos estudantes a uma alimentação adequada e saudável, independentemente de suas restrições alimentares, é a Lei nº 1275/2018, apresentada pelo deputado Marcelo Cabral (Cidadania), que assegura aos alunos diabéticos, hipertensos, celíacos, fenilcetonúricos e com intolerância à lactose, um cardápio de alimentação escolar especial, adaptado à respectiva condição de saúde.

 

Ataque, defesa e plano de ação

 

O ditado popular “a melhor defesa é o ataque” assume um tom irônico quando se trata de alergias alimentares. Em vez de proteger, nosso corpo exagera na defesa, confundindo proteínas inofensivas com inimigos. A confusão desencadeia uma reação em cadeia chamada degranulação, liberando histamina e outras substâncias para combater o “invasor” e causando os sintomas da alergia.

 

O médico alergista e imunologista Daniel Garcia explica que algumas proteínas são campeãs em desencadear alergias, como aquelas presentes no leite de vaca, ovo, amendoim, frutos do mar, soja e trigo, além da cultura alimentar dominante de cada povo.

Os sintomas da alergia podem incluir febre, vômitos, diarreia, reflexo, dor abdominal, erupções e coceiras na pele, falta de ar e inchaço em algumas partes do corpo, a depender do organismo e do alimento envolvido.

 

“Em algumas idades, temos alergias mais prevalentes, por exemplo, lactentes, recém-nascidos, eles vão ter aquela alergia principalmente ao leite, que geralmente vai se manifestar com diarreia, cólica, muco ou sangue nas fezes e até vômitos. Já nos pacientes adultos ou as criancinhas ali na introdução alimentar, podem ter urticária, tosse, às vezes falta de ar, dor abdominal. É alergia da qual temos medo, porque pode fechar a garganta. Temos que ter muita atenção porque ela oferece mais risco à vida”, disse o especialista.

 

O médico também faz uma distinção entre alergia e intolerância alimentar. Enquanto a alergia é uma resposta imunológica a uma proteína do alimento, a intolerância é uma dificuldade de digerir um componente do alimento.

 

“Um exemplo clássico é o leite. A intolerância à lactose é até mais prevalente. E ela nada mais é do que uma dificuldade de digerir o açúcar do leite. Algumas pessoas vão adquirir isso ao longo da vida, outras nascem com uma certa dificuldade. Já a alergia à proteína do leite é focada para aquelas proteínas que estão ali no leite, pode ser a caseína, pode ser a albumina, e geralmente ela é mediada pelo sistema imunológico, não é uma dificuldade de digerir e às vezes uma pequena quantidade de leite pode causar uma reação muito intensa que pode ser fatal”, explica.

 

Após ingerir um alimento que provoca alergia, o recomendado é tomar um antialérgico (anti-histamínico) e procurar atendimento médico imediatamente. Já em casos de alergia conhecida, o conselho é consultar um alergista para um plano de ação personalizado.

 

“Dependendo dos sintomas, pode ser necessário fazer um ajuste na medicação. Para reações cutâneas, um anti-histamínico pode ser suficiente. Já para espirros e congestão nasal, além do anti-histamínico, pode ser necessário um descongestionante nasal. Em casos de dor abdominal intensa e vômitos, já é outro contexto. A alguns pacientes, inclusive, orientamos o uso da adrenalina autoinjetável. Reações mais graves, o próprio paciente pode aplicar adrenalina e na sequência procurar o pronto-socorro”, aponta Garcia.

 

Com os cuidados e acompanhamento adequados, a maioria das pessoas consegue controlar a alergia e evitar reações graves, mesmo quando são surpreendidas, como foi o caso do servidor público João Veloso, de 43 anos, que comia frutos do mar desde a infância e nunca sentiu desconforto. No Dia dos Namorados de 2020, ele teve uma grave reação alérgica após comer camarão.

“Eu e minha esposa saímos para jantar e nós pedimos uma entrada de camarão. Assim que começamos a comer, senti um desconforto na garganta e meu corpo todo começou a coçar, meu rosto ficou empolado e minha garganta começou a fechar como se eu estivesse engasgado com alguma coisa. Fui imediatamente ao pronto-socorro e lá o médico que me atendeu disse que se tratava de uma reação alérgica e que, possivelmente, seria do camarão. Eu não acreditei muito na hora”, conta.

 

Desacreditando do diagnóstico, alguns dias depois comeu o crustáceo e novamente o processo alérgico foi desencadeado. “Foi a partir daí que resolvi fazer um último teste e, infelizmente, realmente sou alérgico. Hoje o simples fato de estar em um ambiente onde o cheiro do camarão seja muito forte, eu já me sinto mal”, conclui o servidor, ciente da gravidade da situação.